Cooper Square, Herald Square, Lincoln Square, Madison Square,
Tompkins Square, Stuyvesant Square… Manhattan está cheia de squares. Há squares
para todos os gostos e de todos os tipos. O termo é tão banalizado que há
squares que não são nem ao menos quadrangulares. Algumas têm formato de
pirâmide - desafiando gente de alto calão como Pitágoras e Arquimedes – mas,
ainda assim, recebem o título que apenas as nobres figuras de quatro lados
iguais deveriam ganhar.
Geometria à parte, o fato é que elas estão por aí e fazem parte da
identidade urbana da cidade. Nova York é imbatível para amantes da técnica do people watching –observar pessoas
desconhecidas e como elas interagem com o meio ao redor - e suas squares são terrenos férteis para voyeurs sem libido. No caldeirão étnico de Gotham City, três
squares, em especial, são imprescindíveis à visita de qualquer turista curioso
sobre as idiossincrasias da alma humana.
A primeira delas é a mais ilustre de todas. A rainha entre as
Squares. Soberana em cartões-postais e consagrada em filmes e séries de televisão:
Times Square. Localizada no coração de Manhattan, ela divide com o Central Parque e a Estátua da Liberdade o Top 3 das atrações mais populares. Seus
multi-milionários outdoors e painéis eletrônicos, repletos de luzes e cores
vibrantes, são de abrir a boca. Vaidosa, ela joga seu charme em doses
homeopáticas e guarda o gran finale
para o cair da noite – quando sem mais competir com o Astro Rei, governa
absoluta. Times Square durante o dia é sublime, mas, durante à noite, é divina.
A melhor maneira de observar tudo o que a Times Square tem a
oferecer é subir nos famosos red steps e
apreciar a vista do último degrau. Mesmo estando pouco acima do nível da rua, é
impressionante como fica mais fácil admirar os billboards. As melhores fotos também são tiradas de lá. Times
Square vive no subconsciente de muitas pessoas. Ela é aquilo que todo mundo
sabe o que é, mas pouca gente sabe como é. E esta é uma diferença
enorme. Por isso, além de se deixar levar pelos encantos visuais dos outdoors,
aproveite também para correr os olhos sobre as pessoas a sua volta. Há um certo
ar de magia na Times Square, um misto de sonho e realização, ao qual cada um
reage de maneira única. Alguns sorriem, outros choram. Uns desmaiam, outros
cantam.
Use o instinto de caçador e procure pelo infame e ex-candidato a
prefeito Naked Cowboy. Se você estiver com sorte, pode encontrar ainda o seu
rival, Naked Indian, ou sua versão feminina, Naked
Cowgirl. Caso você tenha uma queda pelos desenhos da Disney, aproveite para
abraçar alguns dos personagens de Toy Story, ou o Ursinho Puff. Não esqueça de
deixar um dólar para a suada pessoa que te fez voltar no tempo.
A próxima parada é Union Square, onde o glamour publicitário dá
lugar à aglomeração mais exótica da cidade. À começar pelo encontro de três
importantes avenidas – Broadway Avenue, Park Avenue e 4th Avenue. Da praça para
baixo, Manhattan vira bagunça e a lógica numérica que permite visitantes desbravarem
Gotham, sem precisar de bússola, termina. Seguindo da Union Square em direção ao
começo da ilha, as ruas passam a ser identificadas por nomes e fica mais fácil
se perder.
Ainda na Union Square, outro agrupamento que chama atenção é o de
seus frequentadores. Lá, mendigos, turistas, estudantes, crianças, drogados,
cachorros, skatistas e manifestantes ligados ao Occupy Wall Street dividem o
mesmo espaço. Velhos jogam xadrez em mesas improvisadas, um palhaço bêbado
arranja briga com uma jovem ouvindo Slipknot, mochileiros de dreadlocks dormem
em sleeping bags, um senhor de bigode
pluga o microfone num mini amplificador e começa a falar sobre o plano secreto
por trás dos atentados de 11 de Setembro, e um homem parecido com um antigo
professor de história tenta me vender cocaína pela segunda vez. Tudo isso
acontece sob a supervisão de uma destemida estátua de George Washington montado
em seu cavalo e o olhar sereno de uma escultura de Mahatma Gandhi segurando um
cajado.
Às segundas, quartas, sextas e sábados, das 8 da manhã até às 6 da
tarde, Union Square recebe fazendeiros de Upstate New York e cidades vizinhas
para o Greenmarket. A fim de adicionar mais tempero à excentricidade da praça,
produtores vendem queijos orgânicos, frutas, legumes, flores, vinhos, pães e
tortas. Tudo muito fresco e todos muito dispostos a contar sobre as glórias ou
desafios da última colheita.
A terceira square aparece nesta posição não por ser menos
interessante que as anteriores, mas, simplesmente, porque foi assim que meus
pensamentos organizaram este texto quando eu ainda lutava para escrever as
primeiras palavras.
Washington Square é, ao contrário, a mais charmosa dentre as três. Além
disso, fica numa das vizinhanças mais intrigantes de Manhattan, Greenwich Village, e é rodeada por elegantes brownstones.
A entrada de Washington Square é coroada com um belíssimo arco em
mármore branco semelhante ao parisiense Arco do Triunfo, e duas esculturas de
George Washington. Em uma delas, o comandante revolucionário e
pró-independência usa roupas militares. Na outra, já eleito primeiro presidente
dos Estados Unidos da América, aparece com trajes civis.
Dentro do parque, dezenas de pessoas posam para fotos em frente a um
grande chafariz, enquanto outras jogam conversa sentados à beira da fonte’ água.
Nos bancos que correm ao redor da praça, músicos se reúnem para uma informal jam session e tentam manter viva a chama
do movimento contra cultura que nasceu ali e teve seu age na década de 60. Na
grama, jovens universitárias em biquínis se estiram em cangas coloridas para
tomar banho de sol enquanto leem “Os Homens que Não Amavam as Mulheres”, ou
“Jogos Vorazes”. Uma senhora gorda dá migalha de pães a pombos. E um garoto
corre atrás de um frisbee sem perceber um pequeno arbusto logo a frente.
Sim, Manhattan, está
cheia de squares. Mas três delas podem ajudar a tranformar uma viagem em uma
inesquecível recordação.
Jay-Z e Alicia Keys dançam sobre os red steps, em Times Square,
no videoclipe de Empire State of Mind
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