Cresci ouvindo esta música. Lembro de me jogar atravessado no sofá
da sala, após o almoço, e assistir a Sessão da Tarde na Globo. No intervalo do
filme, jovens bonitos e saudáveis mordiam suculentos sanduíches enquanto a
música do Big Mac tocava. Este era o tempo em que Ronald McDonald’s era
considerado amigo das crianças e pouca gente ligava para a imensa quantidade de
gordura dos lanches. A possibilidade de um documentário anti-fast food como Super Size Me nem passava pela cabeça. Devo
ter ido a pelo menos umas três ou quatro festas de aniversários em alguma
franquia do McDonald’s. Lembro de funcionários fantasiados de Bird, Shake e,
meu favorito, Papa Burger. Abrir ansiosamente
a caixa do Mc Lanche Feliz para descobrir a surpresa escondida dentro era um
ritual.
Foi graças a maior rede de fast food do mundo que ouvi a palavra
“picles” pela primeira vez e ainda hoje me impressiono com as reações
antagônicas que ela é capaz de exercer. Perdi a conta de quantas vezes vi
alguém abrir o sanduíche, colocar as duas metades viradas para cima e, de
maneira quase cirúrgica, retirar os picles – não sem antes fazer cara de reprovação.
Um amigo, certa vez, foi mais além. Em tom de desabafo, olhou para todos à mesa
e com grande indignação perguntou:
- Como alguém em sã consciência pode
gostar de picles?
Não tenho resposta científica, nem explicação razoável. O fato é que
gosto. Pertenço a outra metade, ao grupo daqueles que saboreiam os temíveis vegetais
em conserva. O curioso é que me levou vários anos até que eu aprendesse sobre a
incrível alquimia que transforma meros pepinos em suculentos picles. Para mim,
picles eram naturalmente picles. Assim como tomates são tomates, cebolas são
cebolas e... ok, você entendeu.
Numa dessas conversas do tipo “o que você não come de jeito
nenhum?”, fiquei sabendo de um lugar em Nova York chamado Jacob’s Pickles. O restaurante
conta com dois ambientes e uma charmosa área externa. Paredes de tijolo à
mostra dão um tom rústico e despojado ao local, que está sempre cheio de gente.
Dezenas de famintos degustam seus deliciosos legumes em conserva sem terem de
se preocupar com a opinião alheia. Lá, todos compartilham o mesmo gosto.
Em meio a tamanha confraternização gastronômica, o divertido é
escutar pessoas que não se conhecem trocando receitas caseiras e compartilhando
técnicas:
- Já experimentou picles de batata com molho rosê?
- Não há nada melhor que cenoura, do tipo pequena, em conserva de
vinagre doce...
- Hum... adoro quando eles são fritos e crocantes!
A paixão por picles acontece em diferentes intensidades e o cardápio
consegue agradar consumidores tradicionais, assim como connoisseurs mais excêntricos. Entre minhas porções favoritas, estão
a de pimenta japaleño, beterraba fatiada
em rodelas e espargos.
Mas nem só de picles vive o
homem e Jacob’s é gentil o suficiente para engordar o menu com outras
variedades, como pratos típicos do sul dos Estados Unidos. Destaque para o purê de batata com molho de
cogumelos, a gigantesca perna de perú coberta em molho de cranberries e a cesta de macios e recém assados biscuits.
A carta de bebidas da casa é
especializada em cervejarias americanas de médio e pequeno porte e acompanha
muito bem os pratos. Esqueça Budweiser e aproveite para experimentar a caramelada Speakeasy-Prohibition Ale da Califórnia, ou a escura e cremosa Keegan-Mother’s
Milk Stout de Nova York. O leve sabor de chocolate da última promete ficar na
boca por um bom tempo.
Jacob’s Pickles é um
convite a uma deliciosa experiência gastronômica e uma soborosa “overdose
picleana”. Se for do seu gosto, claro.
**
Jacob's Pickles
509 Amsterdam Avenue Manhattan, NY 10024
Entre as ruas 84 e 85
Bairro: Upper West Side
jacobpickles.com
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Jacob's Pickles
509 Amsterdam Avenue Manhattan, NY 10024
Entre as ruas 84 e 85
Bairro: Upper West Side
jacobpickles.com
Parabéns pelo o blog, adorei... muito bom mesmo!
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