Outro dia recebi uma mensagem de um amigo
no Facebook. Não nos falávamos desde que ele havia voltado de Nova York para o
interior de São Paulo, há quase um ano. Após colocar a conversa em dia, ele
escreveu em tom de confissão:
“PS: Acredite ou não, uma das coisas que
sinto falta de NYC é andar de metrô e trem, era tão prático e olha que eu tenho
uma moto e moro em uma cidade de 100 mil habitantes, ou seja, um ovo...”
Sou paulistano e da zona leste. Trabalhei e
estudei do outro lado da cidade, assim como muitos dos meus amigos fazem ainda
hoje. Pegar metrô e ônibus para atravessar São Paulo era parte do dia a dia. Na
Linha Vermelha do Metrô - a que leva os Corinthianos de Itaquera ao encontro dos
Palmeirenses da Barra Funda, ou vice-versa – já vi e conheci muita gente. Com
segurança, posso afirmar que a maioria não sente o mínimo de vontade, ou
saudade, de andar de transporte público.
O que faz o metrô de Nova York especial?
Antes de responder a pergunta, quero
começar pelas coisas que fazem do metrô de Nova York um lugar detestável.
Primeiro, a sujeira das estações e a imundice que se acumula entre os trilhos.
Segundo, a ousadia dos ratos que dominam o underground
de Gotham City e não se intimidam com a presença de homo sapiens (Há meses escrevi um texto chamado Ratos em Nova York,
em alusão à imensa quantidade de esnobes roedores na cidade. Nota de Rodapé aos
que perguntaram: Ana, a rata rechonchuda, anda muito bem). Terceiro, o sistema
de ventilação das plataformas é horrível. Sabe aquela névoa branca que escapa,
romanticamente, de bueiros e cones em diversos filmes e séries de TV? Ela é ar
quente vindo das estações de metrô, ou do esgoto. Milhares de pessoas são
cozinhadas diariamente enquanto Hollywood e turistas vão às farras com a
fumaça.
Se você acha que consegue lidar com os
problemas acima, o subway de Nova
York está a sua espera. A primeira coisa a fazer é comprar um MetroCard, o bilhete
que dá acesso ao metrô, em uma das centenas de máquinas automáticas espalhadas
pelas estações. Uma passagem sai por 2 dólares e 50 centavos. Se você pretende
ficar uma semana, a melhor opção é pagar 29 dólares e ter um bilhete ilimitado
por 7 dias. Com 104 dólares, o cartão com passagens ilimitadas dura um mês.
As linhas do Metrô cobrem grande parte da
cidade e é muito provável que você consiga conhecer toda Nova York sem precisar
usar outro meio de transporte. Exceto, talvez, pelas charretes que circulam
dentro do Central Park. Além disso, os trens funcionam 24 horas. Durante à
noite, o intervalo entre um trem e próximo aumenta consideravelmente - às vezes
ultrapassando 30 minutos - mas uma hora o bendito aparece. A segurança nas
plataformas e dentro das vagões é impressionante. O que me surpreende é a falta
de bom senso de algumas pessoas. Contar notas de cinquenta dólares com uma mão
enquanto a outra segura três sacolas cheias de compras, dentro de um trem
lotado, é jogar contra a sorte.
Eficiência. Confiança. Segurança. Apenas os
três critérios anteriores já seriam suficientes para deixar o Metrô de Maluf,
Pitta, Marta Suplicy, José Serra e Kassab no chinelo (em respeito a nossa curta
memória política, esta retrospectiva se limita aos prefeitos deste milênio).
Mas isso ainda não é o que faz o metrô de Nova York único.
A magia do que acontece debaixo das streets de Gotham City se deve a
sensação de falta de rotina. Cada dia há algo novo para se ver, ou ouvir. A
imprevisibilidade é o charme do Metrô de Nova York. Ela é a visita de animados cantores
mariachis, ou a apresentação de um
grupo de jovens dançarinos de break dentro do seu vagão. Ela é o rastafári arrumando
os longos dreads antes de sentar-se, ou o casal de idosos conversando em alguma
língua estranha. Ela é o velho saxofonista tocando do outro lado da plataforma,
ou a garota dedilhando uns acordes e cantando Sheryl Crown no pé da escada.
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