quinta-feira, 26 de abril de 2012

O dia em que a Assembléia Geral da ONU virou balada

Ao invés de Ban Ki-moon, DJ Cut Chemist. No lugar de chefes de estado e autoridades, ativistas e gente preocupada com o meio-ambiente. Foi assim que no dia 22 de abril a Assembléia Geral das Nações Unidas virou balada. No domingo em que o Brasil comemorava  mais um aniversário do seu descobrimento, o resto do mundo celebrava o Earth Day.

Chovia, fazia frio e a fila era longa. Mas, mesmo assim, centenas de pessoas toparam o desafio e lotaram a sede da ONU para assistir ao filme One Day On Earth. O longa é um projeto audacioso que começou a ganhar forma em 2008 e foi concretizado dois anos depois, no dia 10/10/2010. A proposta? Reunir imagens gravadas em todos os países do mundo neste mesmo dia.

Kyle Ruddick, o cérebro por trás da ideia, conta que seu desejo era “aproximar pessoas”. De maneira muito sensível, o filme explora a diversidade cultural do mundo ao mesmo tempo que traça uma série de características encontradas em todos nós. Semelhanças estas que ultrapassam barreiras geográficas e formam a base da condição humana. Sim, somos diferentes. Mas não tanto quanto pensamos.

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terça-feira, 17 de abril de 2012

O Clube Secreto da Insônia

Tenho hábitos noturnos. Gosto da quietude provocativa da noite e os sentimentos que ela desperta em alguns de nós. Em Nova York, porém, cidade barulhenta por natureza, o silêncio habitual de outros lugares dá lugar a uma sinfonia incessante. E é exatamente este ruído que me deixa de pé horas após os ponteiros cruzarem a marca da meia-noite.

Ao cair da madrugada, alcanço o livro deitado à cabeceira da cama e começo a folhear suas páginas. Minutos depois, sou retirado do mundo da imaginação. Pelas frestas da janela, o barulho da cidade invade o apartamento e toma conta de todo o ambiente. Geralmente, é a sirene estrondosa de uma ambulância que cruza furiosamente a avenida ao lado, ou o zumbido dos tambores que um vizinho porto-riquenho teima em tocar apesar das reclamações dos condôminos.

Para mim, o grito da sirene ou a percussão escandalosa não me perturbam. Na verdade, ambos servem como um despertador. Eles me colocam de pé, fazem calçar o que estiver a frente da cama, cruzar a porta e sair rumo à  pequena mercearia no final da rua. Nova York é uma cidade que acostuma mal seus moradores. Se o seu estômago roncar às duas horas da manhã, ou sua garganta secar no desejo incontrolável de uma coca-cola, basta sair de casa e andar poucos metros até encontrar algum lugar aberto.

Gotham City funciona 24 horas e faz jus ao adjetivo de cidade que nunca dorme. Confesso que mesmo tendo crescido em São Paulo, ainda me sinto perdido quando sou assombrado por um súbito desejo de sair para beliscar um sanduíche na madrugada paulistana. Sim, nova-iorquinos são mimados, gostam e se orgulham disso.

Na mercearia, conheço o rapaz paquistanês que fica atrás do balcão. Ele me recebe sempre com um sorriso acolhedor e, de pronto, retira um copo de café da máquina sem que eu precise lhe dizer uma única palavra. Talvez seja sua espontânea receptividade, ou o par de mesas no canto direito da loja, que faz com que sempre haja alguém por lá.

Passadas umas boas semanas visitando o meu colega de Islamabad, percebi que os rostos que costumo encontrar na mercearia, durante a madrugada, são todos conhecidos. Em Nova York, diferentemente do que se vê em qualquer cidade brasileira, as pessoas são bem menos amistosas. Elas podem até responder um contato visual com sorriso, mas palavras raramente lhe fogem da boca. Mind your own business é o lema na Big Apple. Isto faz com que eu leve mais tempo para perceber que já encontrei determinada pessoa antes.

Ainda assim, sigo com meu cordial good night, how are you, hello e por aí vai. Foi assim que conheci meus caros colegas frequentadores da mercearia. Ao todo, eles formam um grupo de quatro pessoas. Algumas vezes, há um convidado trazido por alguém do bando. Custou-me um tempo até que eu fosse finalmente convidado para juntar-me a eles e ter o privilégio de sentar-me à mesa.

Os quatro são pessoas de personalidades, profissões e estilos de vida diferentes. O mais velho do grupo, um senhor na casa dos 60 anos, é viúvo e professor de violino. Ao lado esquerdo dele, curvada e apoiada nos dois cotovelos, está uma estudante de literatura inglesa da Columbia University. Completam a equipe um rapaz judeu de fala mansa e voz grave, e uma senhora dominicana que faz tricô enquanto participa da conversa. Apesar de todas as diferenças, os quatro compartilham uma mesma característica. Todos sofrem de insônia.  

O professor de violino foi o primeiro a frequentar o lugar e após se deparar com as mesmas pessoas, às mesmas horas da madrugada, foi pouco a pouco estabelecendo contato.  Até o dia em que resolveu confidenciar seu problema e encontrou não só a compreensão dos novos colegas, mas também afinidade. Sentados à mesa, os quatro pouco falam de insônia, ou noites mais dormidas. Os temas das conversas costumam abranger notícias do dia, artigos publicados no New York Times e assuntos corriqueiros como a ineficiência do sistema de coleta de lixo, ou algum escândalo envolvendo celebridades.

Às vezes, a jovem estudante de literatura saca da bolsa um livro e começa a ler algumas páginas. O assunto, na maioria dos casos, gera reflexão e opiniões distintas. Pronto. Está aberto o debate da noite, ou melhor, da madrugada. No balcão, o sorridente paquistanês assiste a cena agradecido. Ele não está mais só. Apesar de não se envolver nas conversas, o grupo presta companhia à ele e ajuda a passar o tempo. Principalmente nas noites frias e intermináveis de inverno, diz ele.

Antes do sol nascer o grupo se levanta e parte em retirada. Um a um vão se despedindo do atendente com um aceno, ou um educado baixar da cabeça. Em noites mais animadas, é possível ouvir alguém murmurar: “See you”. Se vão dormir ou não, pouco importa. Afinal, ter insônia em Nova York, apesar de tudo, pode ser sinônimo de entretenimento. 

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Ratos em Nova York

Dizem que há inverno no Brasil. Grande mentira. Talvez no Sul. Perto de Chuí. Mas definitivamente não em Oiapoque. Lá, não. Nem pensar. Em São Paulo, onde nasci e cresci, também não há inverno. Isto tão pouco significa que faça apenas calor na terra da garoa. Há dias em que é preciso se agasalhar, tomar chocolate quente e buscar abrigo embaixo das cobertas. Ainda assim, não há inverno.

Em São Paulo, assim como na maioria dos estados que vem acima no mapa, há duas estações: verão e não-verão. Em alguns estados e algumas cidades, é possível ainda dividir o ano em duas temporadas: a da chuva e a da seca. Na capital paulista, em dezembro, janeiro, fevereiro e março chove até São Pedro pedir trégua. O Rio Tietê transborda, o trânsito fica mais do que caótico e milhares de pessoas perdem suas casas.

Jobim e Vinícius já cantavam “são as águas de março fechando o verão”, mas a administração pública ainda teima em culpar a mãe natureza pela falta de planejamento e estrutura, enquanto políticos aparecem com cara de espanto e surpresa em programas de TV e capas de jornais. Situação mais fácil de prever que final de novela.

Em Nova York é diferente. Aqui, sim, o ano é divido em quatro estações - e no inverno o bicho pega. Não a cobertor que esquente, nem chocolate que aqueça. O negócio é feio. Tão ruim é a situação que até os animais reclamam. Na cidade infestada por ratos, a reclamação que mais me espanta vem deles: os roedores.

Fico espantado por duas razões. Primeira. Nunca soube, nem imaginei que ratos pudessem escalar paredes.  Vi alguns que são excelentes alpinistas e confesso que até desenvolvi admiração, tamanha era a determinação deles. Segunda. Ratos cantam. São desafinados, mas soltam o gogó. Outro dia, enquanto conversava com uma amiga na sala de estar, ouvi uma leve sinfonia vindo da janela.

-       Pássaros  cantando à noite? – perguntei intrigado.
-       Hahahaha... Não são pássaros.
-       Não?
-       Vá perto da janela que você descobre.

Lá fui eu. Para minha alegria, encontrei um grupo de três ratos arranhando a janela e implorando por asilo (eu falei que o frio aqui é coisa séria). Os pobrezinhos gritavam, choravam, cantavam... sei lá. Não sei que fim levaram, mas a janela continuou fechada.

Se engana quem pensa que serenata de roedores é privilégio de moradores de classe baixa. Os ratos em Nova York, assim como a população local, têm estilos de vida diferentes. Alguns vivem em apartamentos luxuosos na Quinta Avenida, ou duplex (dúplices, se você sempre concorda com o dicionário) com vista para o Central Park. Claro, sem dúvida alguma, a maioria é residente do Harlem, Bronx e áreas próximas dos piers. However, eles estão por todos os lados.

Outro reduto de ninhadas são as estações de metrô. Lembro que fiquei impressionado a primeira vez que vi um roedor correndo sobre os trilhos. Hoje, não fico mais. Virou rotina. Na plataforma, aguardando pelo trem, é fácil distinguir turistas de moradores. Quem vem de fora, tira fotos ou aponta assustado para baixo. Quem vive na cidade, olha assustado para os turistas. Esta é a dinâmica da observação em Gotham City.

Na estação da rua 86, no lado leste da ilha, vive a rata mais gorda que já vi. Seu nome é Ana, de acordo com usuários daquela linha. De longe, a rata parece gata. Tão gorda que é, tem de correr para os vãos das laterais toda vez que um trem se aproxima. Seus amigos, muito mais em forma, encolhem a cabeça e escondem-se sobre os trilhos. Cada vez que Ana dá o ar da graça, é uma adrenalina só. Na plataforma, passageiros acompanham a saga da rata para não ser atropelada.

Ana tem muitos fãs. Mais de uma vez, vi pessoas dando de comer para ela. Uma senhora, certa manhã me confidenciou: “Ela adora mini-pretzels”. Enquanto sussurrava em meu ouvido, como se não quisesse compartilhar o segredo com o resto do mundo, a mulher arremessava um punhado de pequenos pretzels para a voraz roedora.

Enquanto termino este texto, uma sinfonia de assobios invade meu quarto pelas frestas da janela. Desta vezes, são pássaros. A primavera, finalmente, chegou. 


quarta-feira, 4 de abril de 2012

Martin Luther King Jr. e a luta por igualdade racial

Há 44 anos, Martin Luther King Jr. era assassinado em Memphis e o movimento anti-segregação racial nos Estados Unidos tomava novos rumos. 

Este som do U2 conta um pouco da história do pastor que ajudou a colocar brancos e negros lado a lado. 


Polícia Investiga Ameaça de Ataque Terrorista em Nova York

Nova York amanheceu repleta de policias nesta quarta-feira. Em todos os lados - principalmente em pontos turísticos e áreas de grande concentração de pessoas, como a Times Square e estações de trem - é possível avistar alguém carregando o distintivo da NYPD (New York Police Department).

Apenas a alguns dias da Páscoa e do Pessach, o feriado judaico que comemora o fim da escravidão do povo judeu no Egito,  a NYPD e o FBI investigam a circulação de uma mensagem que anuncia um novo ataque do grupo terrorista Al-Qaeda. 

O flyer eletrônico tem sido veiculado em sites e fóruns de discussões em árabe. Até o momento, informações sobre a origem do texto são desconhecidas. Segundo o chefe da NYPD, Ray Kelly, não há nenhuma ameaça concreta de ataque, mas é importante encarar a mensagem com seriedade. 

Caso a participação da Al-Qaeda na criação, ou divulgação da mensagem seja confirmada, esta se torna a maior demonstração pública do grupo terrorista desde a morte de Osama Bin Laden, em maio do ano passado.

Em um fundo levemente amarelado, anunciando o cair da tarde, edifícios de Manhattan dividem espaço com a frase "AlQaeda Coming Soon Again in New York".