quinta-feira, 26 de julho de 2012

As Squares de Nova York

Cooper Square, Herald Square, Lincoln Square, Madison Square, Tompkins Square, Stuyvesant Square… Manhattan está cheia de squares. Há squares para todos os gostos e de todos os tipos. O termo é tão banalizado que há squares que não são nem ao menos quadrangulares. Algumas têm formato de pirâmide - desafiando gente de alto calão como Pitágoras e Arquimedes – mas, ainda assim, recebem o título que apenas as nobres figuras de quatro lados iguais deveriam ganhar. 

Geometria à parte, o fato é que elas estão por aí e fazem parte da identidade urbana da cidade. Nova York é imbatível para amantes da técnica do people watching –observar pessoas desconhecidas e como elas interagem com o meio ao redor - e suas squares são terrenos férteis para voyeurs sem libido. No caldeirão étnico de Gotham City, três squares, em especial, são imprescindíveis à visita de qualquer turista curioso sobre as idiossincrasias da alma humana.

A primeira delas é a mais ilustre de todas. A rainha entre as Squares. Soberana em cartões-postais e consagrada em filmes e séries de televisão: Times Square. Localizada no coração de Manhattan, ela divide com o Central Parque e a Estátua da Liberdade o Top 3 das atrações mais populares. Seus multi-milionários outdoors e painéis eletrônicos, repletos de luzes e cores vibrantes, são de abrir a boca. Vaidosa, ela joga seu charme em doses homeopáticas e guarda o gran finale para o cair da noite – quando sem mais competir com o Astro Rei, governa absoluta. Times Square durante o dia é sublime, mas, durante à noite, é divina.

A melhor maneira de observar tudo o que a Times Square tem a oferecer é subir nos famosos red steps e apreciar a vista do último degrau. Mesmo estando pouco acima do nível da rua, é impressionante como fica mais fácil admirar os billboards. As melhores fotos também são tiradas de lá. Times Square vive no subconsciente de muitas pessoas. Ela é aquilo que todo mundo sabe o que é, mas pouca gente sabe como é. E esta é uma diferença enorme. Por isso, além de se deixar levar pelos encantos visuais dos outdoors, aproveite também para correr os olhos sobre as pessoas a sua volta. Há um certo ar de magia na Times Square, um misto de sonho e realização, ao qual cada um reage de maneira única. Alguns sorriem, outros choram. Uns desmaiam, outros cantam.

Use o instinto de caçador e procure pelo infame e ex-candidato a prefeito Naked Cowboy. Se você estiver com sorte, pode encontrar ainda o seu rival, Naked Indian, ou sua versão feminina, Naked Cowgirl. Caso você tenha uma queda pelos desenhos da Disney, aproveite para abraçar alguns dos personagens de Toy Story, ou o Ursinho Puff. Não esqueça de deixar um dólar para a suada pessoa que te fez voltar no tempo.  

A próxima parada é Union Square, onde o glamour publicitário dá lugar à aglomeração mais exótica da cidade. À começar pelo encontro de três importantes avenidas – Broadway Avenue, Park Avenue e 4th Avenue. Da praça para baixo, Manhattan vira bagunça e a lógica numérica que permite visitantes desbravarem Gotham, sem precisar de bússola, termina. Seguindo da Union Square em direção ao começo da ilha, as ruas passam a ser identificadas por nomes e fica mais fácil se perder.

Ainda na Union Square, outro agrupamento que chama atenção é o de seus frequentadores. Lá, mendigos, turistas, estudantes, crianças, drogados, cachorros, skatistas e manifestantes ligados ao Occupy Wall Street dividem o mesmo espaço. Velhos jogam xadrez em mesas improvisadas, um palhaço bêbado arranja briga com uma jovem ouvindo Slipknot, mochileiros de dreadlocks dormem em sleeping bags, um senhor de bigode pluga o microfone num mini amplificador e começa a falar sobre o plano secreto por trás dos atentados de 11 de Setembro, e um homem parecido com um antigo professor de história tenta me vender cocaína pela segunda vez. Tudo isso acontece sob a supervisão de uma destemida estátua de George Washington montado em seu cavalo e o olhar sereno de uma escultura de Mahatma Gandhi segurando um cajado.

Às segundas, quartas, sextas e sábados, das 8 da manhã até às 6 da tarde, Union Square recebe fazendeiros de Upstate New York e cidades vizinhas para o Greenmarket. A fim de adicionar mais tempero à excentricidade da praça, produtores vendem queijos orgânicos, frutas, legumes, flores, vinhos, pães e tortas. Tudo muito fresco e todos muito dispostos a contar sobre as glórias ou desafios da última colheita.

A terceira square aparece nesta posição não por ser menos interessante que as anteriores, mas, simplesmente, porque foi assim que meus pensamentos organizaram este texto quando eu ainda lutava para escrever as primeiras palavras.
Washington Square é, ao contrário, a mais charmosa dentre as três. Além disso, fica numa das vizinhanças mais intrigantes de Manhattan, Greenwich Village, e é rodeada por elegantes brownstones.

A entrada de Washington Square é coroada com um belíssimo arco em mármore branco semelhante ao parisiense Arco do Triunfo, e duas esculturas de George Washington. Em uma delas, o comandante revolucionário e pró-independência usa roupas militares. Na outra, já eleito primeiro presidente dos Estados Unidos da América, aparece com trajes civis.

Dentro do parque, dezenas de pessoas posam para fotos em frente a um grande chafariz, enquanto outras jogam conversa sentados à beira da fonte’ água. Nos bancos que correm ao redor da praça, músicos se reúnem para uma informal jam session e tentam manter viva a chama do movimento contra cultura que nasceu ali e teve seu age na década de 60. Na grama, jovens universitárias em biquínis se estiram em cangas coloridas para tomar banho de sol enquanto leem “Os Homens que Não Amavam as Mulheres”, ou “Jogos Vorazes”. Uma senhora gorda dá migalha de pães a pombos. E um garoto corre atrás de um frisbee sem perceber um pequeno arbusto logo a frente.

Sim, Manhattan, está cheia de squares. Mas três delas podem ajudar a tranformar uma viagem em uma inesquecível recordação.

Jay-Z e Alicia Keys dançam sobre os red steps, em Times Square, 
no videoclipe de Empire State of Mind

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