terça-feira, 3 de julho de 2012

Quando chove em Nova York


Nova York não é Paris. Nunca foi e nunca será. As duas capitais do mundo têm vícios e virtudes bem particulares. Em dias de chuva, por exemplo, a diferença entre elas é grotesca – sinto informar aos Yankees, mas, neste aspecto, a Cidade Luz leva imensa vantagem. Paris sob água é uma inundação de romantismo e nostalgia. Os boulevards franceses incorporam um bucolismo sem igual e transformam rues ordinaires em pinturas impressionistas de Monet.

Em Meia-Noite em Paris, filme do nova yorkino Woody Allen, o aspirante a escritor e personagem principal delira com a possibilidade de caminhar pelas vielas parisienses sem guarda-chuva. Para o romântico herói, a cidade banhada pelo Rio Sena é ainda mais bela quando São Pedro assume o comando. A capital francesa talvez seja o único destino no mundo onde turistas programam sua viagem para coincidir exatamente com a temporada de chuva. Oui.

Do outro lado do Atlântico, o mesmo fenômeno da natureza é recebido com bem menos gratidão e muito mais hostilidade. Nova York embaixo de chuva é rough. Não há glamour, nem encanto. A cidade encolhe, diminui. As pessoas também. Sorrisos viram artigos de luxo e, quando aparecem, são mínimos e logo vão embora. O que fica mesmo é o mau-humor. Além, claro, do monótono desfile de testas franzidas.

Quando a chuva cai na Big Apple, o trânsito fica ainda mais desafinado. Táxis viram objetos de disputa e são necessários longos minutos até encontrar um que esteja livre. Nos ônibus, passageiros desolados mergulham na leitura, ou assistem a pedestres acrobatas saltando sobre poças. Nos trens do metrô, o silêncio reina absoluto. Nem os músicos que acostumam animar as plataformas dão o ar da graça. Parece luto generalizado.

Na Times Square, os famosos letreiros luminosos perdem o brilho e o encanto. A fila sem fim para comprar ingressos, com desconto, para shows da Broadway desaparece num passe de mágica. Os congestionados degraus do Red Steps, onde visitantes se acotovelam para tirar fotos em dias de tempo bom, ficam vazios. Não há Naked Cowboy, nem mexicanos fantasiados de personagens da Disney.

Quem está de passagem pela cidade não pensa duas vezes. “Hoje é dia de visitar aquele museu”. Assim, as galerias do Metropolitan, MoMA e Guggenheim são invadidas por um tsunami de turistas. Os seguranças, pobre coitados, encerram o dia de expediente roucos. “No flash, no flash”, gritam a todos pulmões. Em vão. O dedo dispara a foto e o rapaz finge uma cara de desentendido. “Pardon”. O bom de ser turista é poder se fazer de bobo.

Mas, afinal, o que fazer em Nova York quando chove?

Ao invés de seguir a boiada, minha sugestão é evitar o que o típico turista faz. Assim, a primeira carta na manga é explorar o Chelsea Market, um paraíso gastronômico no coração do Meatpacking District. O mercado é instalado dentro do prédio da antiga fábrica de biscoitos Nabisco e guarda traços valiosos da arquitetura do final do século XIX. A área gourmet é bem diversificada e conta com restaurantes, bares, cafes, sorveterias e casas de doce. No Buon Italia, a massa é fresca e feita ali mesmo. O ravióli é um dos melhores da cidade. Logo ao lado, a doceria Fat Wich vende seus “legendários” brownies. Crocantes por fora e macios por dentro. O paladar agradece.

Aos interessados em alimentar o cérebro ao invés do estômago, uma boa pedida é passear pelas infinitas prateleiras da maior livraria de novos e usados de Gotham City. Strand. Localizada a poucas quadras da Union Square. O logotipo da loja é “18 Miles of Books” e dá uma boa dimensão do acervo. “Procurou um livro e não encontrou? Nem na internet? Vai na Strands.” Isso é o que todo calouro escuta na primeiro dia de faculdade. Do lado de fora da livraria, prateleiras móveis vendem livros a 1, 2 e 5 dólares; e atraem dezenas de pessoas.

Outra alternativa é buscar abrigo em um dos milhares de pubs da cidade e esperar a chuva passar (ou não!). Se a sorte estiver ao seu lado e as primeiras gotas começarem a cair depois das 3 horas da tarde, você pode (e deve) aproveitar os descontos de happy hour. Quase todos os bares diminuem os preços de bebidas e porções entre o começo da tarde e início da noite. Para quem quer economizar, esta é a estratégia certa. Escolha um lugar que tenha televisores e acompanhe uma partida de baseball, hockey, ou basketball. Americanos são fanáticos por esporte e nova yorkinos, em geral, gostam de acompanhar os jogos de seus times em pubs, com muita cerveja e amigos por perto.

Se você é do tipo atleta, coloque o shorts de corrida, a camiseta
dri-fit e os tênis com molas
 anti-impacto. Alongue as pernas. Respire. Alongue um pouco mais e... pronto.  Dispare em direção ao Central Park. As vielas transbordadas de pessoas de todos os tipos ficam às moscas durante a chuva, com exceção de poucos casais apaixonados e gente do fitness. Correr pelo parque quase vazio é uma experiência única. É como subir na proa do Titanic e gritar “I am the King of the World”.

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