quarta-feira, 15 de agosto de 2012

O Metrô de Nova York


Outro dia recebi uma mensagem de um amigo no Facebook. Não nos falávamos desde que ele havia voltado de Nova York para o interior de São Paulo, há quase um ano. Após colocar a conversa em dia, ele escreveu em tom de confissão:

“PS: Acredite ou não, uma das coisas que sinto falta de NYC é andar de metrô e trem, era tão prático e olha que eu tenho uma moto e moro em uma cidade de 100 mil habitantes, ou seja, um ovo...”

Sou paulistano e da zona leste. Trabalhei e estudei do outro lado da cidade, assim como muitos dos meus amigos fazem ainda hoje. Pegar metrô e ônibus para atravessar São Paulo era parte do dia a dia. Na Linha Vermelha do Metrô - a que leva os Corinthianos de Itaquera ao encontro dos Palmeirenses da Barra Funda, ou vice-versa – já vi e conheci muita gente. Com segurança, posso afirmar que a maioria não sente o mínimo de vontade, ou saudade, de andar de transporte público.

O que faz o metrô de Nova York especial?

Antes de responder a pergunta, quero começar pelas coisas que fazem do metrô de Nova York um lugar detestável. Primeiro, a sujeira das estações e a imundice que se acumula entre os trilhos. Segundo, a ousadia dos ratos que dominam o underground de Gotham City e não se intimidam com a presença de homo sapiens (Há meses escrevi um texto chamado Ratos em Nova York, em alusão à imensa quantidade de esnobes roedores na cidade. Nota de Rodapé aos que perguntaram: Ana, a rata rechonchuda, anda muito bem). Terceiro, o sistema de ventilação das plataformas é horrível. Sabe aquela névoa branca que escapa, romanticamente, de bueiros e cones em diversos filmes e séries de TV? Ela é ar quente vindo das estações de metrô, ou do esgoto. Milhares de pessoas são cozinhadas diariamente enquanto Hollywood e turistas vão às farras com a fumaça.

Se você acha que consegue lidar com os problemas acima, o subway de Nova York está a sua espera. A primeira coisa a fazer é comprar um MetroCard, o bilhete que dá acesso ao metrô, em uma das centenas de máquinas automáticas espalhadas pelas estações. Uma passagem sai por 2 dólares e 50 centavos. Se você pretende ficar uma semana, a melhor opção é pagar 29 dólares e ter um bilhete ilimitado por 7 dias. Com 104 dólares, o cartão com passagens ilimitadas dura um mês.

As linhas do Metrô cobrem grande parte da cidade e é muito provável que você consiga conhecer toda Nova York sem precisar usar outro meio de transporte. Exceto, talvez, pelas charretes que circulam dentro do Central Park. Além disso, os trens funcionam 24 horas. Durante à noite, o intervalo entre um trem e próximo aumenta consideravelmente - às vezes ultrapassando 30 minutos - mas uma hora o bendito aparece. A segurança nas plataformas e dentro das vagões é impressionante. O que me surpreende é a falta de bom senso de algumas pessoas. Contar notas de cinquenta dólares com uma mão enquanto a outra segura três sacolas cheias de compras, dentro de um trem lotado, é jogar contra a sorte.

Eficiência. Confiança. Segurança. Apenas os três critérios anteriores já seriam suficientes para deixar o Metrô de Maluf, Pitta, Marta Suplicy, José Serra e Kassab no chinelo (em respeito a nossa curta memória política, esta retrospectiva se limita aos prefeitos deste milênio). Mas isso ainda não é o que faz o metrô de Nova York único.

A magia do que acontece debaixo das streets de Gotham City se deve a sensação de falta de rotina. Cada dia há algo novo para se ver, ou ouvir. A imprevisibilidade é o charme do Metrô de Nova York. Ela é a visita de animados cantores mariachis, ou a apresentação de um grupo de jovens dançarinos de break dentro do seu vagão. Ela é o rastafári arrumando os longos dreads antes de sentar-se, ou o casal de idosos conversando em alguma língua estranha. Ela é o velho saxofonista tocando do outro lado da plataforma, ou a garota dedilhando uns acordes e cantando Sheryl Crown no pé da escada.

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