sexta-feira, 9 de março de 2012

A reportagem que a revista Vogue não quer que você leia


A reportagem abaixo foi escrita especialmente para a revista Caros Amigos. O link da publicação online está aqui.


Em março de 2011, a versão em inglês da revista de moda Vogue trouxe às bancas uma edição especial. Diante de um horizonte levemente alaranjado e a belíssima arquitetura da cidade de Damasco, Asma Al-Assad lança um olhar reflexivo em direção ao norte. Acima da pomposa imagem vem o título A Rose in the Desert (Uma Rosa no Deserto). A publicação chegava poucos dias antes da explosão de violência na Síria, que já deixou mais de 7,5 mil mortos, e é comandada pelo presidente Bashar Al-Assad – esposo da intitulada flor.

Desde que os conflitos tomaram contam dos noticiários internacionais, a Vogue correu para retirar a reportagem do ar. Internautas que tentam acessar a página na internet são recebidos com a mensagem Oops, the page you’re looking for can not be found (Ops, a página que você está procurando não pode ser encontrada). Em ferramentas de pesquisa, como o Google, o desafio para encontrar a publicação é imenso. No mercado negro, ela é considerada artigo de luxo e custa caro.


Mas nem tudo são espinhos. Graças a admiração que Bashar Al-Assad ainda consegue exercer em alguns de seus apoiadores é possível ler o adocicado perfil da primeira-dama de Damasco e, por tabela, aprender sobre o homem que governa a ferro e fogo o país árabe. Simpatizante do atual regime sírio, o linguista Mohamad Abdo Al-Ibrahim disponibiliza o texto, original e em inglês, em seu website

Segundo o jornal The Hill, especializado em cobrir o congresso norte-americano, o governo de Damasco pagou a empresa de relações públicas Brown Lloyd James para ajudar a orquestrar a reportagem. A Vogue não comenta o assunto e prefere apagar qualquer vestígio que ligue a revista à família Al-Assad.

Pra não dizer que não falei das flores, traduzo abaixo as passagens mais interessantes que encontrei.

1. Asma Al-Assad sobre palestras que ministra a jovens em centros de educação comunitária. Tema: participação cívica.

O principal objetivo de Asma Al-Assad, 35 anos, é mudar a mentalidade de seis milhões de Sírios menores de 18 anos e encorajá-los para se envolver no que ela chama de “cidadania participativa”. “A ideia é fazer todo mundo participar responsavelmente do processo de melhorar o país, é desenvolver a sociedade civil. Todos nós temos participação aqui e o país se transformará naquilo que fizermos agora”, diz a primeira-dama.


2. Bashar Al-Assad explica porque decidiu estudar cirurgia ocular quando jovem. Curiosamente, o presidente lista três razões bem diferentes do que tem vivenciado desde o início das manifestações oposicionistas.
“Porque isto é muito preciso, quase nunca uma emergência e há muito pouco sangue”.


3. A primeira-dama defende valores democráticos e diz adotá-los em casa.

Asma Al-Assad esvazia uma caixa de fondue dentro de uma panela para preparar o almoço. A casa é governada por fortes princípios democráticos. “Nós todos votamos no que queremos e quando”, diz ela. O lustre acima da mesa de jantar é feito de recortes de histórias em quadrinhos. Eles (os três filhos do casal) votaram a favor e nós dois (Bashar Al-Assad e Asma Al-Assad) contra”.


4. Bashar Al-Assad apóia a separação de estado e religião e se mostra solidário a refugiados.

Nenhum de nós acredita em caridade em prol de caridade. “Nós temos refugiados Iraquianos aqui (Síria)’, diz o presidente. “Todos falam sobre isso como um problema político, ou caridade. Eu digo que isto não é nenhum dos dois – isto é uma questão de cultura, filosofia. Nós temos que ajuda-los. Por isso, a primeira coisa que fiz foi permitir o acesso de iraquianos a escolas. Se eles não tiverem acesso a educação, eles irão embora como bombas, em todos os sentidos: terrorismo, extremismo, drogas, crime. Se eu tiver um vizinho laico e equilibrado, eu estarei seguro’”.


5.  Asma Al-Assad relembra a visita de Angelina Jolie e diz que se sente segura na Síria.

Quando Angelina Jolie veio com Brad Pitt representando as Nações Unidas em 2009, ela estava impressionada pelos esforços da primeira-dama em promover a integração de refugiados iraquianos e palestinos, mas também assustada com a ideia do presidente Assad sobre sua segurança pessoal.

“Meu marido estava dirigindo e nos levando para almoçar”, lembra Asma Al-Assad, “e eu percebi pelo canto do olho que Brad Pitt estava se remexendo no banco de trás. Eu virei e perguntei: ‘Alguma coisa errada?’”

“Onde estão seus seguranças?”, ele perguntou.
“Então eu comecei a provocá-lo – ‘Você vê aquela senhora idosa na rua? Ela é um dos nossos seguranças! Aquele homem atravessando a rua é outro!’. E todos caímos na risada”.
O presidente finalizou a brincadeira: “Brad Pitt queria mandar os seguranças particulares dele para vir aqui e passar por treinamento!”.

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