quarta-feira, 7 de março de 2012

Quarta de Cinzas

Depois da Super Tuesday – importante dia para as primárias republicanas, onde eleitores do partido vão as urnas em 10 estados para escolher o candidato que deve enfrentar Barack Obama em novembro – vem a Quarta-feira de Cinzas. Ou, ao menos, deveria vir. Isto porque o resultado das urnas deixa claro que dos quatro candidatos que ainda disputam a nomeação pelo Partido Republicano, dois estão fora do páreo: Newt Gingrich e Ron Paul. O problema é que eles insistem em continuar na disputa, que deveria envolver, daqui pra frente, somente Mitt Romney e Rick Santorum.

New Gingrich teve um pequeno triunfo na noite de ontem ao vencer na Georgia, mas qual a verdadeira dimensão da conquista? Quase nenhuma. Gingrich representou o estado no congresso norte-americano por 20 anos e a vitória era dada como certa pela maioria dos cientistas políticos. Para o ex-presidente da Câmara dos Representantes, a primária na Georgia serviu apenas como um referendo sobre sua popularidade por lá. Nada mais. Gingrich deve somar ainda bons resultados em outros estados sulistas, como Alabama e Missisipi – que vão as urnas na próxima terça-feira. A estratégia é fortalecer sua imagem e aumentar seu poder de barganha para o dia em que Romney e Santorum baterem à sua porta.

Ron Paul, representante pelo estado do Texas, colecionou uma série de fiascos e voltou para casa como o grande perdedor. O republicano e defensor do Movimento Libertário era apontado como o favorito em North Dakota. O resultado, porém, mostrou-se diferente das previsões. Ron Paul conseguiu apenas 28% dos votos, enquanto o vitorioso Rick Santorum abocanhou 40%. Nem em Virgínia, onde disputou votos apenas com Mitt Rommney – Santorum e Gingrich não se classificaram para disputar primárias no estado – o congressista conseguiu vencer.

Rick Santorum encontrou boas razões para comemorar, mas não suficientes para justificar os discursos otimistas que tem dado nas últimas horas. O ex-senador pela Pensilvânia contou com o apoio de grupos religiosos evangélicos para vencer em Oklahoma, Tennessee e North Dakota. Parte da comunidade evangélica ainda enxerga com suspeita Mitt Romney - mórmom e frequentador da Igreja Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Em programas de rádio e televisão mais radicais, é comum a presença de pastores e líderes religiosos questionando se mórmons são, de fato, cristãos.

Santorum também ganhou suporte dos republicanos mais conservadores e deve seguir com a mesma estratégia que colocou a ex-governadora do Alasca, Sarah Palin, no mapa político em 2008: defender valores morais fortemente atrelados a princípios religiosos. Recentemente, durante um polêmico debate sobre a inclusão de anticoncepcionais na cobertura de planos de saúde, Santorum foi categórico: “Acho que eles nem deveriam existir. Não acho que homens e mulheres deveriam brincar de Deus”. A frase conquistou corações na linha mais radical do partido republicano e grande apreço entre certos grupos religiosos.

Mitt Romney venceu em metade dos estados: Idaho, Ohio, Vermont, Virgina e Massachusetts, onde foi governador entre 2003 e 2007. Com isso, o candidato mais moderado entre todos pavimenta o caminho rumo a - quase certa - nomeação. Digo quase certa porque Romney tem um grande adversário pela frente: ele mesmo. O business man ainda não descobriu uma maneira de atrair a simpatia da classe média norte-americana.

Em coletivas de imprensa e programas do tipo talk-show, Romney fala mais do que deve e algumas vezes acaba por destacar demais sua formidável conta bancária. Em tempos de desemprego e crise econômica, alguém com o discurso do Mercado Financeiro não é o típico candidato que atrai pais e mães de família que vivem nos subúrbios e sofrem para pagar a hipoteca da casa e mandar os filhos para a universidade. Quando aprender – e se aprender – a estabelecer uma relação de confiança mútua com a classe trabalhadora, Rommney perceberá que Santorum é só mais um aspirante a celebridade (e quem sabe um programa de tevê, certo Ms. Palin?). Enquanto isso, a novela continua.

Nenhum comentário:

Postar um comentário